31 outubro, 2021

Opiniões XII – O que não gosto de ver no enfermeiro


O título inicial deste post era: “Os cromos da enfermagem”, mas como estamos todos muito sensíveis e enfraquecidos e como, de uma forma geral, nesta crise pandémica, merecemos é reconhecimento e respeito, moderei no título. Talvez não seja o momento certo para escrevê-lo, mas por outro lado, tão cedo, talvez também não o venha ser.

Na continuidade da rúbrica “Opiniões” da primeira temporada deste Blog (porquedeixeideserenfermeiro) e, ao contrário do que prometi, voltando um pouco à sua característica corrosão, escrevo, para meu registo e memória, aquilo que não gosto de ver nos enfermeiros. Depois, ficaria o convite, para seres tu a fazê-lo.

É de bom-tom ressalvar que há algumas, digamos, “coisas” que também não gosto de ver em mim, enquanto enfermeiro, enquanto indivíduo. Serei, portanto, por vezes, aos meus olhos e aos olhos de alguns, um cromo também.


Posto isto, aqui vai o que não gosto de ver no enfermeiro:

Quando por diversas e demasiadas vezes pretende intervir ou decidir em campos que não são da sua competência, nomeadamente medicina. Ao fazê-lo, acaba por descurar funções que deveriam ser suas – as de enfermagem, passando uma imagem aos seus colegas, de desprezo por aquilo que é, ou deveria ser, da sua responsabilidade. Há quem os rotule de “frustrados de medicina”. Que não se confunda esta tendência, com o dever de questionar, sugerir e discutir algum assunto médico, com o médico, caso assim se justifique, pelo especial interesse do cliente.

Quando é um lambe-botas. Este é um estilo clássico e transversal. Não haverá muitos, mas ainda os há. Caracteriza-se por ser ambicioso e paciente. Vai bajulando a chefia, assumindo tarefas cada vez mais relevantes e aos poucos vai ganhando poder. Tem a memória demasiadamente curta ao ter atitudes que criticava no passado, esquecendo-se que há pouco tempo estava no outro lado e que rapidamente passa para lá.

Quando é chefe e rodeia-se de lambe-botas. Aquele tipo de chefe que têm dois ou mais assistentes: um braço direito, um braço esquerdo e às vezes um cérebro. As tarefas vão sendo delegadas e repartidas e a equipa questiona-se: “O que é que o(a) chefe faz ao certo?”

Quando persistentemente se lamenta do imenso trabalho, mas que acumula em três sítios.

Quando trata as auxiliares ao nível de quase-escrava. Na pirâmide, os enfermeiros tratam muito pior os assistentes operacionais, do que os médicos tratam os enfermeiros. Aquele que se queixa da arrogância do médico, poderá ser o mesmo que trata com pouca educação e respeito um assistente operacional.

Quando aceita que um enfermeiro, que ainda há pouco tempo chegou a um Serviço e porque tem uma especialidade, já mande.

Quando ainda há pouco tempo chegou a um Serviço e porque tem uma especialidade, manda e pisa colegas que já lá estão há dezenas de anos e que o(a) receberam e integraram no Serviço.

Quando acha que o título de especialista lhe confere superioridade intelectual e técnica em relação aos outros e mesmo até em relação aos mais experientes, considerados peritos por colegas e médicos.

Quando só olha para o seu umbigo. Quer o melhor para si e se esse “melhor” implicar um “pior” para o outro ao lado, pouco importa.

Quando é super amigável pela frente e quando viras costas, corta-te pesado na casaca.

Quando quase te ofende quando vens substituí-lo num posto, por teres demorado uma hora a almoçar, mas que demora frequentemente uma hora e meia a fazê-lo.

Quando se queixa de tudo que está associado à enfermagem (SNS, Ministérios, Sindicatos, Ordem) mas que na altura de tomar a iniciativa para o que quer que seja, fica calado e imóvel.

Quando se acha eticamente um grande profissional e ao mesmo tempo, nas redes sociais, destila ódio e ofensa a colegas seus e outros cidadãos.

E vocês? O que não gostam de ver no enfermeiro?

02 outubro, 2021

Cartão de visita

 


Benvindo peregrino! Sejam todos benvindos, todas as nacionalidades, todas as bandeiras,

De mochila às costas, tanta cor, de tantas maneiras,

Em meditação, ou euforia,

Avistam ao longe Santa Luzia!


Todos os dias, são às dezenas, centenas talvez.

Vêm por Vila Nova de Anha, o destino Compostela.

No canto, o mar que o Lima desfez,

Em frente a sua princesa, como é bela!


Chegou a um dos pontos altos da sua travessia,

Mas não olhe para a sua esquerda, que fica com azia!

E assim termina o poema com ponderação,

Cuidado que vamos falar de prostituição.


A beleza e a vida da peregrinação, contrasta com o degredo que é a vida da prostituição. 

A vossa expressão mudou, certo? Agora já não há rimas, não há espaço para alegorias, já não tem graça, é assunto demasiadamente sério.

Ali, bem à vossa esquerda, depois da curva e escondida deste esplendor, temos um antro de prostituição, como cartão de visita da nossa bela cidade.

No meio dos trilhos, no meio do mato. 

Aos teus olhos, aos meus olhos, aos olhos de centenas de peregrinos que vêm de todos os lados. E mesmo que não viessem, mesmo que não os houvessem.

À direita da curva temos uma escola, no meio uma extensa zona residencial e um pouca acima um Centro de Saúde, mesmo que não os houvessem. 

É esta a imagem que queremos para as nossas crianças? Para os vianenses, para os darquenses?

O assunto prostituição é assunto inconveniente, assunto tabu, que todos, mas todos mesmo, empurram para a frente com a barriga. Responsáveis? Os responsáveis vão desde o Governo, passando pelo poder autárquico, local, judicial e terminando em mim e em ti.

E por que é que este assunto é lançado por um enfermeiro, num painel de enfermagem? Porque é um grave problema de saúde pública, ao qual os enfermeiros não podem ficar indiferentes.

Dizem-me que já se tomaram medidas, já se procurou intervir junto das prostitutas, mas que é muito difícil ou até impossível uma mudança. Acredito que sim. 

A prostituição provavelmente nunca será eliminada, até porque não é ilegal no nosso país.

Mas poderemos trabalhar para mudar esta imagem, esta promiscuidade, este cenário degradante.

Será fácil? Evidente que não. Será rápido? Talvez não. 

Como começar? 

Por pensar, debater e alterar a legislação neste país. 


PS - Após a publicação deste post e por feliz coincidência (mas foi mesmo coincidência, porque este post ainda não foi partilhado em rede social e por isso teve pouca visibilidade), o mato começou a ser limpo. Alguns hectares, que tinham muitas árvores e tojo, foram deixados a descoberto, dissipando assim as trevas da prostituição naquele local. É de louvar certamente. O problema foi atenuado, mas não resolvido, porque mantêm-se prostitutas na estrada perpendicular, na conhecida "recta de Anha", uns metros à frente.  

A febre do Vice-Almirante



Há um sketch muito conhecido do Gato Fedorento que, com algum arranjo da minha parte, termina mais ou menos desta forma: 

Ohhh meu general... Continência e tal, sim senhor, mas não me venham com fitas... eu também tive na guerra.


Foi este momento emblemáticos da autoria de RAP e seus colegas que me veio à memória, quando assisto a esta febre em torno do vice-Almirante, nas redes sociais e nos meios de comunicação social.


Atenção!

Aplaudo este militar que, sem dúvida assumiu e liderou uma missão complexa, num dos momentos mais críticos para o país e para o mundo.

Aplaudo este militar pelo seu discurso claro, conciso e objetivo.

Aplaudo este militar porque sem qualquer tipo de receio, enfrentou na rua, as dezenas de negacionistas esquizolunáticos. 


Mas...

Vamos com calma.

Não entremos em euforias, nem deixemos para segundo, terceiro ou nenhum plano, aqueles que efetivamente estiveram no terreno, iniciaram, desenvolveram e concluíram esta hercúlea tarefa de vacinação em massa - Os enfermeiros.


Foram os enfermeiros que estiveram em conjunto com as autarquias na liderança da organização do centros de vacinação.

Foram os enfermeiros que reestruturaram os seus serviços de base.

Foram os enfermeiros que se organizaram para garantir uma vacinação em tempo recorde durante cerca de 12 horas ao longo do dia, ao longo de quase todos os dias da semana, ao longo de vários meses.

Foram os enfermeiros que contactaram os utentes para os agendamentos de vacinação e lidaram com as inúmeras dúvidas, frustações, negações e hesitações das pessoas.

Foram os enfermeiros que efetuaram a inoculação e os respetivos ensinos inerentes à população, numa tarefa repetitiva e por isso desgastante.

E acima de tudo, foram os enfermeiros que mais uma vez estiveram expostos ao grande risco de contrair o maldito vírus.


O Sr Vice-Almirante, cumpriu a sua missão, assim como eu considero que o primeiro coordenador da task-force cumpriria, se tivesse o contexto que o primeiro teve.


A perceção com que eu fico é que o Dr. Francisco Ramos não teve o mesmo apoio e proteção incondicional do Governo, nem teve as vacinas em numero capaz.


Por isso, não pedimos palmas à varanda, pedimos apenas o mesmo reconhecimento. 

E quanto ao Governo, pedimos apenas (já andamos a pedir muito antes da pandemia, não é por ser agora) que de uma vez por todas ouçam os apelos dos enfermeiros e dos sindicatos e cumpram a revisão de uma carreira de uma forma justa.

26 julho, 2021

O caso do enfermeiro de Leiria, visto por mim.


Para quem não sabe da notícia, foi alvo de um processo disciplinar, com multa, um enfermeiro do Centro Hospitalar de Leiria, por ter atribuído a prioridade (pulseira) amarela a um utente que recorreu ao Serviço de Urgência deste Centro por dor torácica e que acabou por falecer com um enfarte, após 6 horas de espera, quando a prioridade amarela estipula um tempo máximo de espera de 1 hora.
Na eventualidade de alguém próximo à vítima ler este post, ficam desde já as minhas sentidas condolências por este infeliz e lamentável evento, que entristece, julgo poder dizê-lo, toda a classe de enfermagem.


Fiz milhares de horas na Triagem de Manchester, triei dezenas de milhares de queixas ao longo de vários anos. Eu e muitos como eu.
A triagem foi tema de vários desabafos na primeira era deste blog. Os posts "Contrariedades na Manchester" e "Só mais uma coisinha Sr. Bastonário", já nessa altura tocavam no assunto de hoje, entre outros.
É um assunto muito delicado e complexo, mas julgo ter a experiência e a legitimidade para que o possa comentar, ao contrário de muitos que gostam de achar, sem nunca ter triado, nem saber como "funciona" a Triagem de Manchester.
Como exemplo temos o Sr. Dr. Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos que, segundo a noticia da tvi24, disse que tendo em conta as queixas do paciente, “era uma situação para ser atendido imediatamente” e que “não querendo avançar com qualquer hipótese sobre a forma como foi feita a triagem de Manchester (…)”.
Absurdo será uma critica leve para o que este senhor acabou de dizer aos meios de comunicação social, numa tentativa baixa e vil de culpar logo à partida o enfermeiro, não fazendo qualquer referência, pelo menos neste artigo, ao principal responsável, que é o médico (ou porventura os médicos). Tanto é que foi suspenso do Hospital.
E absurdo porquê? Primeiro refere “tendo em conta as queixas do paciente” e depois diz “não querendo avançar com qualquer hipótese sobre a forma como foi feita a triagem de Manchester”. Mas então em que é que ficamos? É completamente contraditório o que diz. Sabe ou não sabe o detalhe da triagem? Sabe como o utente classificou e caracterizou a dor? Estava lá? Afinal não quer avançar com qualquer hipótese. Se está a falar de hipóteses é porque não sabe merda nenhuma do que é que aconteceu.


Estive no início da implementação da Triagem de Manchester.
Recordo as polémicas e os dissabores de muitos médicos ao perceberem que iria ser um enfermeiro a decidir a prioridade do utente e se este iria para a área da sua competência, ou não.
Recordo que no início tudo aquilo nos inchou o peito, pois sentia-se um pouco mais de “poder” e autonomia.
Lembro-me de pensar que os enfermeiros é que de facto estavam mais preparados e capazes para aquela difícil tarefa e havia muitos enfermeiros que a executavam exemplarmente.
Mas tudo aquilo foi um presente envenenado.
A triagem era e é um perigo constante!
Várias foram as vezes que pensei e temi que isto que está a acontecer ao colega de Leiria, poder-me-ia acontecer. A mim e a qualquer um dos meus colegas de serviço.
Passei entre os pingos da chuva.
Hoje, felizmente já lá não estou, já não corro riscos. Só por isso, já poderei dizer que estou solidário com ele.


Quase tudo me leva a querer que este colega não errou mas, mesmo a ter errado, o que é possível, estou igualmente e totalmente solidário com ele.
E porquê?
Só quem tria é que sabe o que é a pressão de um utente para aumentar uma prioridade quando não faz qualquer sentido.
Só quem tria é que sabe o que é a pressão do segurança/porteiro/administrativo, que por sua vez está a ser pressionado lá fora, na sala de espera
Só quem tria é que sabe o que é a pressão de um médico quando entra na sala de triagem, mesmo com outros utentes e familiares lá dentro, a vociferar contra o enfermeiro por ter dado uma prioridade alta ou encaminhado um utente para ele, quando já tinha tantos outros para observar (ou não) e mesmo sem fazer a mínima ideia do que são os fluxogramas de triagem. Era como se fosse um economista a criticar e protestar com um arquiteto sobre um desenho para uma casa.
Só quem tria é que sabe o cansaço que existe, quando se decide sobre dezenas, atrás de dezenas de queixas, sinais e sintomas, horas atrás de horas.
Todos as áreas e postos de trabalho de enfermagem levam ao desgaste rápido, está estudado, mas durante a minha experiência de Urgência foi unânime a opinião de que a Triagem de Manchester era dos postos de trabalho mais desgastantes.
Tudo isto leva ao erro. 
Se foi esse o caso, não sei.
Nem sei, nem sabemos o que aconteceu com detalhe.
Estamos no perigoso campo das hipóteses a evitar as especulações.
Mas algumas coisas sei e sabemos:

1. O enfermeiro de Leiria atribuiu uma prioridade amarela, cujo tempo máximo de espera é de 1 hora. O utente esperou 6 horas. Morreria se tivesse sido observado dentro de 1 hora? Talvez sim, talvez não, nunca se saberá. Poderíamos ficar por aqui para absolver o enfermeiro.

2. Como disse, não sabemos de que forma a vítima classificou e caracterizou a dor, mas sabemos que uma queixa de dor torácica pode dar uma prioridade verde, ou seja, até 2 horas de espera. O sistema permite. Pelo menos no meu tempo era assim. Se é certo ou não que permita, isso já é outra história.

3. O que quero dizer com isto é que o sistema permite que uma dor torácica seja urgente (amarela) ou pouco urgente (verde) e que não seja apenas muito urgente (laranja) e emergente (vermelho).

4. Há utentes com dor torácica, que posteriormente se constata ser de causa cardíaca que, numa fase de triagem, sem qualquer auxílio de meios de diagnóstico, ninguém diria que o fosse. Por vezes o utente pode até dizer que não tem dor naquele momento e que a dor que teve foi ligeira, mas efetivamente pode estar a enfartar.

5. Há utentes que exageram nas manifestações e outros que as atenuam.

6. Um quadro de ansiedade pode provocar dor torácica.


Repito, todos estes pontos nada têm a ver com a situação em concreto, são apenas pontos de análise e pontos que decorrem da minha experiência enquanto triador.
Desconheço se a Ordem e os sindicatos se pronunciaram e agiram sobre este assunto. Se não o fizeram, acho que o deveriam fazer. Este colega merece uma defesa justa, pois poderia ser qualquer um de nós. Espero que ultrapasse tudo isto, que a verdade seja alcançada e que tenha uma carreira repleta de sucesso.

10 julho, 2021

Pro Bono veste Prada e voluntariado Zara



Sim, sou eu novamente a escrever sobre a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros.

Sim, os meus amigos e familiares, preocupados com a minha persistência, por um lado e bem-estar, pelo outro, já me deram o toque para desligar e não valorizar, segundo suas palavras, quem não merece, mas é mais forte do que eu, perdoem, a incoerência provoca-me inquietação.

Sim, volto a escrever sobre a senhora, mesmo depois de esta ter dito numa entrevista a uma revista “científica” de nome “Tal & Qual” que gosta de “provocar” e “chatear os invejosos que andam aí contra mim. É gente que sonha comigo, a pensar como me pode fazer mal. Com essas fotos ficam cheios de inveja e, quando as veem e acordam, até dão com a testa na mesa de cabeceira!”.

(nota: obviamente não leio a Tal & Qual, mas fazem questão de me enviar estes brindes. Só encontro uma justificação, tal e qual a Senhora Bastonária, gostam de provocar.)

Por isso sim, volto lamentavelmente a ceder a um dos seus gostos e como de facto, é público que sou, estou, fui, estive, serei e estarei “contra” si, terei que responder a esta e outras provocações que adiante mencionarei:

1. Não sonho consigo, mas de facto devo dizer-lhe que me inquieta, que me incomoda mesmo digámos, caso contrário não despenderia parte do meu tempo a escrever sobre si. Não dou o tempo como perdido, vejo-o como uma catarse, uma forma de descomprimir ao teclado, perante o que tenho assistido em várias das suas ações.

2. Portanto, sim, “chatea-me”, mas não tenho inveja de si! De todo! Talvez tenha alguma inveja de um amigo meu que comprou um barco outro dia.

3. Fazer-lhe mal? Isso nunca. Nasci para praticar o bem e tenho uma obsessão pela verdade, justiça e respeito. Já todos perceberam que é inquebrável, aparentemente intocável e que se alimenta com a crítica. Não lhe desejo o mal, simplesmente não a desejo como bastonária da minha Ordem e por isso a critico.

4. Na testa já tenho uma grande cicatriz de um acidente de viação, dispenso outro peteiro.


Antes do tema principal, devo o seguinte esclarecimento a quem acompanhou a iniciativa de tomada de posição, através do Manifesto pela Dignidade dos Enfermeiros e principalmente a quem se preocupou comigo, devido à novidade ou rumor de que tinha levado com um processo movido pela Senhora Bastonária.

Não, a Senhora Enfermeira Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que eu saiba e até ao momento não moveu nenhum processo contra mim, decorrente da minha participação no Manifesto pela Dignidade dos Enfermeiros.

Certamente saberá, mesmo às vezes não parecendo, que vivemos num país livre, onde, sem insulto e com respeito, poderemos criticar alguém, preferencialmente baseados em factos.

As minhas fontes já me asseguraram que isso não passou de um rumor, todavia, sendo para si frequente o meio judicial, tive que preparar a minha defesa, informando o meu advogado e pensar num eventual contra-ataque, contactando os meus “connects” jornalísticos. Fiquei mais tranquilo. Se por um lado desejaria que fôssemos por esse caminho, por outro iria trazer algum dissabor ao orçamento familiar, isto porque não tenho disponível o dinheiro da quotização da Ordem para custas judiciais e honorários.

Foi uma experiência única. Ter sido o rosto dessa iniciativa deixou-me orgulhoso e as palavras de incentivo e valorização que fui recebendo, fez-me pensar que estou no lado certo, que estou no caminho certo da minha vida. Se tudo tiver sido em vão, fica o acto na memória. Um dia as minhas filhas, quando perceberem melhor no que se define a vida, irão ver que o pai, certo dia, teve coragem de enfrentar algo muito mais poderoso do que ele, na defesa de valores como respeito, verdade e dignidade.

Ao contrário do que muitos julgam, não sofri nenhuma coação para desligar do Manifesto. O Manifesto teve algum impacto, não aquele que eu esperaria. Ultrapassaram-se as 250 assinaturas na Petição que subscreve o Manifesto e isso é, ao contrário do que os bajuladores acham, extremamente relevante para quem não tem, nem de perto, nem de longe o mediatismo e o alcance que a visada tem. Simplesmente decidi que seria a hora de desviar o meu foco, talvez por sentir ou ter a convicção que a maioria dos enfermeiros está-se a borrifar, para não dizer outra coisa, em quem é que ocupa o cargo de bastonário. Uma boa parte aplaude e idolatra a senhora, porque são absorvidos e iludidos pelas medidas populistas, negligenciando os erros. Outra boa parte despreza-a, mas esconde-se com receio de represálias. Apesar de tudo, para quem tiver interesse ou curiosidade, a Petição e o Manifesto continuam activos. Podem visitar: Manifesto: aqui e aqui. E Petição: aqui.

E finalmente, o tema principal.

Como podem verificar na imagem, a senhora bastonária calçou as sapatilhas (ténis, no norte e no resto do mundo, é um desporto) e foi fazer o que sabe melhor, prestar cuidados. Saiu de casa e voluntariamente ou “pro bonamente” foi colaborar na diminuição do “overbooking” do Centro de Vacinação Covid da Graça, vacinando. Até aqui tudo bem ou tudo mal, consoante as opiniões, ficou feliz, no fundo é o que interessa.

Não concordo de todo com a iniciativa e é altamente questionável, mas como já estou habituado ao populismo, dou de barato. Poderíamos esperar que o fizesse de forma humilde e discreta, sem fotos, sem posts, sem vanglória e vaidade, esperando quiçá, que algum(a) dos admiradores relatasse o benemérito feito, mas não, não é o seu estilo.

Para quem não é da área da saúde, é importante perceber porque é que é altamente questionável: Houve alguma autorização dos ACES ou ARS para esta iniciativa? Pouco provável, tendo em conta que foi só o tempo de calçar os “ténis” e sair de casa.

Havia algum seguro que protegesse a senhora bastonária? E no caso de alguma intercorrência grave ou menos grave decorrente de uma inoculação efetuada pela senhora bastonária, como iria o ACES justificar que aquela dose tinha sido administrada por alguém externo à equipa?

Mas o cerne da questão nem é esse. O que verdadeiramente me levou a desabafar, é a brutal incoerência por parte do mais alto cargo da Ordem dos Enfermeiros. Meses antes, como se verifica na imagem, a mesma senhora bastonária ameaçou uma professora de enfermagem, que é enfermeira tal como ela, que teria “mão extremamente pesada” no caso de esta avançar com uma recruta de enfermeiros voluntários para vacinação covid. Basta compararem as duas imagens e tirarem as ilações.

Rapidamente vieram as justificações que uma coisa era voluntariado e outra seria pro bono. Cómico, não? Para mim é.

Mas porque não serão ambas as situações voluntariado? Ou porque não serão ambas as situações pro bono?

É que Pro bono veste Prada e voluntariado Zara.

Pro bono é chique e voluntariado é pra gente pobre. Será isso?

Mas afinal, como se isso interessasse, qual a diferença entre os dois conceitos?

Pro bono é um trabalho voluntário que requer habilitação profissional e voluntariado não requer habilitação profissional. Pro bono é uma modalidade de voluntariado.

Mas então essa senhora Leila Qualquer, não é enfermeira? Sim, é. E não ia recrutar enfermeiros? Sim, ia.

São erradas ambas as situações? Sim, são.

Portanto o meu poligrafo diz, incoerência total.

Até breve!






 

16 abril, 2021

𝗦𝗮𝗶 𝗺𝗮𝗶𝘀 𝘂𝗺 𝗽𝗿𝗼𝗰𝗲𝘀𝘀𝗼 𝗱𝗲 𝗱𝗶𝗳𝗮𝗺𝗮çã𝗼 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗮 𝗺𝗲𝘀𝗮 𝟱 𝗳𝗮𝘇 𝗳𝗮𝘃𝗼𝗿!

Surreal o número de processos e ameaças de processos de difamação que envolvem e envolveram a bastonária da Ordem dos Enfermeiros.
A legitimidade da bastonária da Ordem dos Enfermeiros avançar com um processo de difamação contra terceiros, é precisamente igual à legitimidade de outros vários terceiros avançarem com processos de difamação contra si.
Ao avançar com um processo de difamação contra alguém que a chamou de "mentirosa" está involuntariamente e implicitamente a culpabilizar-se quando também chama de mentirosos (e não só) outros cidadãos, alguns seus colegas. É o que na gíria se diz: "provar do próprio veneno".
Um dos problemas é que nós, enquanto membros da Ordem, pagamos a defesa da bastonária, mas não pagamos a defesa de colegas por esta ofendidos. Por isso, a maioria deixa passar. Foram insultados, mas não se querem incomodar, nem querem e nem podem gastar dinheiro.
Por isto e por muito mais, eu e quase 250 pessoas já assumimos uma posição.





15 abril, 2021

Já leu o Manifesto pela Dignidade dos enfermeiros?


Não tem o alcançe nem o mediatismo das petições que envolvem a Operação Marquês, mas não deixa de ser relevante que em poucos dias, perto de 250 pessoas já assinaram a Petição que subscreve o Manifesto pela Dignidade dos enfermeiros. 

Um Manifesto que assume uma tomada de posição pública de enfermeiros que não se revêm na postura da sua bastonária.

É preocupante ou alarmante até, quando recebemos respostas de colegas que concordam com o Manifesto e que ficam indignados com o comportamento da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, mas que não assinam com medo de represálias, porque o seu chefe de serviço ou o seu Professor da Especialidade pertencem à equipa da Sra Enf.ª Ana Rita Cavaco. Até fico com a garganta seca.

É preocupante quando muitos colegas até condenam o comportamento e as atitudes da bastonária, mas não querem saber da Ordem para nada. Só se vêem obrigados a pagar quotas e desvalorizam totalmente o seu papel.

É preocupante quando os fiéis seguidores da Sra Enf.ª Ana Rita Cavaco procuram ridicularizar este Movimento, utilizando até expressões como "aceita que doi menos" que já são características deste estilo que repudiámos. Será que têm noção que estão a ofender centenas de pessoas? Será que têm a noção que estão a desvalorizar de forma desrespeitosa a opinião e a convicção de outros? Serão estes colegas enfermeiros? Incompreensivelmente sim.

Mas este Movimento continua, passo a passo, até ao objectivo final. A luta pela dignidade, pelo respeito, pela verdade e pela enfermagem nunca esmorece, apenas ganha força, dure o tempo que durar.

É importante que este Movimento cresça ainda mais e para isso é feito o convite para leitura do Manifesto e assinatura da Petição que o subscreve.

Assim,

Leitura do MANIFESTO PELA DIGNIDADE DOS ENFERMEIROS

 👉 Aqui 

ou 

👉 Aqui


Apoia o MANIFESTO PELA DIGNIDADE DOS ENFERMEIROS por assinatura confidencial 

👉 Aqui


Todos os factos estão devidamente confirmados e comprovados.


✻ Apoia esta causa! Partilha esta mensagem!



12 março, 2021

4.º Comunicado - Manifesto pelo Dignidade




Caros colegas,

Em resposta às várias solitações de esclarecimento sobre o Manifesto pela Dignidade e sobre a sua demora, somos a informar que o mesmo se encontra numa fase final de elaboração.

A sua demora deve-se a alguns contratempos que foram surgindo, contudo nada impedirá a sua concretização. Pedimos a vossa paciência.

Esperamos em breve ter o Manifesto finalizado, para vossa leitura, análise e assinatura em caso de concordância.

Actualmente ultrapassamos os 150 enfermeiros com intenção de assinatura.

Remete tua intenção para:

manifesto.dignidade.cj@hotmail.com







04 março, 2021

Caro Abílio,


Caro Abílio,

 

Espero que não me leve a mal o facto de partilhar publicamente esta mensagem que lhe enviei, após o seu convite de amizade no Facebook.

Partilho-a porque acho que é importante que outras pessoas, quer sejam enfermeiros ou não (como o Abílio), tenham conhecimento daquilo que foi o passado, para que assim se perceba o presente e comece a delinear o futuro.

 

Tomei a liberdade de fazer uns pequenos ajustes à mensagem original que lhe enviei.

 

Então aqui vai,

 


Caro Abílio,


Louvo-lhe o desejo em querer unir os enfermeiros. Aprecio a sua atenção e dedicação para com os problemas dos enfermeiros.

Sei que em tempos teve um justo e merecido reconhecimento, após o seu apoio numa Manifestação, salvo erro porque foi incansável com o megafone. Aplaudo-o.


Seria bom ou muito bom que a maioria dos portugueses se interessasse pelo menos metade do que o Abílio se interessa pelos problemas da enfermagem em Portugal, mas infelizmente Abílio, parece-me que não tem noção de todo um contexto.

 

Caro Abílio, a desunião dos enfermeiros infelizmente não vem de agora e muito menos com um mero Manifesto que lidero.

A desunião já́ vem, por exemplo, do tempo em a maior representante dos enfermeiros portugueses atacou persistentemente o sindicato mais representativo de enfermeiros, por sinal dos Enfermeiros Portugueses também.


Já vem do tempo em que, não sendo a única, minou muitas opiniões e fomentou, digamos… (gostaria de ser mais subtil, mas…) ódio é a palavra certa a meu ver, a muitos enfermeiros por esse mesmo sindicato, ao ponto de muitos insultarem e assobiarem à passagem das suas portas, em plena Avenida 24 de Julho, na mega manifestação em Lisboa, que provavelmente até o Abílio esteve presente.


Eu também lá estive Abílio e não foi nada bonito, nada digno de enfermeiros.


Estive lá como enfermeiro e como dirigente sindical da época, desse mesmo sindicato, convencido e otimista nessa tal tão “desejada” união.

Agora já não sou Abílio! Eles pensam que sim! Como se isso fosse uma etiqueta qualquer que invalide a manifestação de opinião e que rotule quem se opõe ao “regime” como “essa esquerdalha” ou a “esquerda caviar”!

 

Desunião, para mim Abílio, é isso.


Desunião Abílio, para mim, é quando a Ordem dos Enfermeiros organiza um Encontro num Anfiteatro no Museu D. Diogo de Sousa em Braga,  convidando todos os sindicatos com o pretexto da tão desejada união, mas que não passou de mais um vil ataque a esse mesmo sindicato.

Eu estive lá Abílio e não foi nada bonito, nada digno de enfermeiros.

 

O Plano estava tão bem montado que até jornalista trazia a lição tão bem estudada, para dirigir a sua lança apenas e só ao presidente desse mesmo Sindicato. Numa palavra, foi deplorável Abílio. Aqui tem uma descrição mais precisa desse marco (ler aqui)

 

Caro Abílio,

Acha mesmo que me vou unir a quem me insulta e me diz: "você até rasga o cú para ter um pouco de atenção!".

Acha mesmo que me vou unir a quem me chama louco e criminoso, por ter decidido avançar com um Manifesto de tomada de posição , em oposição àquilo com que nunca me identificarei enquanto enfermeiro e cidadão?

 

Acha mesmo que me vou unir a quem ofende colegas de profissão, ou não, com parvos, parvalhonas, burros, porcos, bestas, bandalhos, mentirosos ordinários, vigaristas e estercos?

Acha mesmo que me vou unir a quem envia cumprimentos a pais dos visados, já falecidos?

Acha mesmo que me vou unir a quem se vangloria em conseguir resolver as coisas, “porque têm medo de mim”?

 

Se há valores que os meus pais e avós me transmitiram foram os valores da verdade, justiça e respeito e esses eu nunca os renegarei.

 

Abilio se me disser quais as suas intenções para querer ser meu amigo aqui nesta rede social tão magnífica e tão lamaçenta, de nome Facebook, eu escutá-lo-ei.

Se vier por bem, sem querer monitorizar e espiar o que eu gosto ou não gosto , como alguns que defendem o que o Abílio defende, fizeram.

Então pode vir. Aceito todos que venham por bem.

 

Agora se insistir no ataque, sem que leia ou se pronuncie sobre os motivos do Manifesto, então pode ficar por aí.

Abraço e felicidades para si e para os seus.


Tiago Marinho Subtil

 

01 março, 2021

Quando se recua 50 anos...



Quando se recua 50 anos...

Ainda sobre o Manifesto pela Dignidade, que muito em breve será divulgado.

 

Enquanto alguns criticam a postura e o estilo da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, mas cruzam os braços, afirmando que "não vale a pena tomar uma posição". Enquanto outros referem ter medo de represálias, 
continua o trabalho pela verdade, protegidos pela liberdade, democracia (e advogados também).
Cada vez nos chegam mais mensagens de apoio e cada vez nos chegam mais más notícias.

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Uma colega assinou o primeiro Manifesto, cujo primeiro assinante é o Prof. Manuel Lopes.
Posteriormente partilhou-o
aos seus contactos, através do seu email profissional.

O seu Diretor recebeu uma queixa por parte da Ordem, alegando que a colega estaria a fazer "campanha contra a Ordem".

Resultado: nada aconteceu, nem me parece que vá acontecer, isto se residirmos num país livre e democrático. Mas por vias das dúvidas, usem vosso email pessoal. Há quem vos queira silenciar e intimidar.

 

Um colega que sempre trabalhou no estrangeiro. Membro de um grupo de rede social de enfermeiros portugueses a trabalhar no estrangeiro. Este grupo era muito importante para ele, pelos contactos que mantinha e pelo trabalho que desenvolvia.

Teve a "ousadia" de criticar o facto da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros ter ido dar um beijo de amiga a André Ventura. Perguntou à mesma, "o que tinha a dizer de ter estado presente na Convenção do CHEGA, que desrespeitou todas as indicações da DGS, depois de ter criticado a festa do Avante.

A Digníssima Bastonária leu, não gostou e conversou com os administradores do Grupo.

Resultado: o colega foi banido do grupo.

As conclusões ficam ao vosso critério.

Colega, se não te revês em:

  • Atropelo à imagem e dignidade dos enfermeiros, decorrente das posições da Bastonária da Ordem dos enfermeiros, com ofensas e insultos a inocentes (e supostos culpados) das acusações de incumprimento das regras de prioridade vacinal e a enúmeros enfermeiros, seus colegas, que com educação, expõe factos e pontos de vista.
  • Vários processos em tribunal, em curso e já terminados, pagos com o dinheiro das nossas quotas.
  • Irregularidades por parte de Ana Rita Cavaco, nas assinaturas da sua folha de Ponto no seu anterior local de trabalho (foi arguida e constituída culpada por, "falsificação da folha de presenças, uma vez que a preencheu, relativamente a dias e horas em que declarou ter estado ao serviço, não o tendo estado"). Consequências deliberadas pelo CJ – Zero.
  • Processo da Sindicância em Ministério Público, ameaças e confirmações de processos de difamação e o processo em investigação, já antigo sobre suspeitas de falta de transparência e uso indevido de verbas da OE.
  • Atropelo à imagem e dignidade dos enfermeiros, decorrente dos muitos milhares de euros pagos à SIC, para uma telenovela "promover" de forma absurda os enfermeiros.
  • Centenas de milhares de Euros pagos em avenças para serviços prestados à OE, por parte de amigos do CHEGA e PSD. (nem que fossem do PS ou BE).
  • Clima permanente de guerrilha com o Ministério da Saúde, o que mantém inviabilizado o diálogo e o consenso.

Envia tua intenção de leitura e de assinatura do Manifesto para:

manifesto.dignidade.cj@hotmail.com

Despeço-me com a seguinte mensagem que recebi:

Infelizmente há muita gente que tem receio de ter problemas, os climas de medo calam as pessoas perante o mal, retiram-lhes a liberdade sem que por vezes se apercebam disso e neste momento vimos isto acontecer a vários níveis, na sociedade e na enfermagem.

Mas como Edmund Burke disse, para que o mal perdure basta que os homens bons nada façam. 

Cumprimentos a todos e estamos juntos na defesa da profissão e da liberdade.