Benvindo peregrino! Sejam todos benvindos, todas as nacionalidades, todas as bandeiras,
De mochila às costas, tanta cor, de tantas maneiras,
Em meditação, ou euforia,
Avistam ao longe Santa Luzia!
Todos os dias, são às dezenas, centenas talvez.
Vêm por Vila Nova de Anha, o destino Compostela.
No canto, o mar que o Lima desfez,
Em frente a sua princesa, como é bela!
Chegou a um dos pontos altos da sua travessia,
Mas não olhe para a sua esquerda, que fica com azia!
E assim termina o poema com ponderação,
Cuidado que vamos falar de prostituição.
A beleza e a vida da peregrinação, contrasta com o degredo que é a vida da prostituição.
A vossa expressão mudou, certo? Agora já não há rimas, não há espaço para alegorias, já não tem graça, é assunto demasiadamente sério.
Ali, bem à vossa esquerda, depois da curva e escondida deste esplendor, temos um antro de prostituição, como cartão de visita da nossa bela cidade.
No meio dos trilhos, no meio do mato.
Aos teus olhos, aos meus olhos, aos olhos de centenas de peregrinos que vêm de todos os lados. E mesmo que não viessem, mesmo que não os houvessem.
À direita da curva temos uma escola, no meio uma extensa zona residencial e um pouca acima um Centro de Saúde, mesmo que não os houvessem.
É esta a imagem que queremos para as nossas crianças? Para os vianenses, para os darquenses?
O assunto prostituição é assunto inconveniente, assunto tabu, que todos, mas todos mesmo, empurram para a frente com a barriga. Responsáveis? Os responsáveis vão desde o Governo, passando pelo poder autárquico, local, judicial e terminando em mim e em ti.
E por que é que este assunto é lançado por um enfermeiro, num painel de enfermagem? Porque é um grave problema de saúde pública, ao qual os enfermeiros não podem ficar indiferentes.
Dizem-me que já se tomaram medidas, já se procurou intervir junto das prostitutas, mas que é muito difícil ou até impossível uma mudança. Acredito que sim.
A prostituição provavelmente nunca será eliminada, até porque não é ilegal no nosso país.
Mas poderemos trabalhar para mudar esta imagem, esta promiscuidade, este cenário degradante.
Será fácil? Evidente que não. Será rápido? Talvez não.
Como começar?
Por pensar, debater e alterar a legislação neste país.
PS - Após a publicação deste post e por feliz coincidência (mas foi mesmo coincidência, porque este post ainda não foi partilhado em rede social e por isso teve pouca visibilidade), o mato começou a ser limpo. Alguns hectares, que tinham muitas árvores e tojo, foram deixados a descoberto, dissipando assim as trevas da prostituição naquele local. É de louvar certamente. O problema foi atenuado, mas não resolvido, porque mantêm-se prostitutas na estrada perpendicular, na conhecida "recta de Anha", uns metros à frente.
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