25 março, 2023

Os problemas de assédio moral no Hospital de Viana



Quem estiver mais ou menos atento às notícias, provavelmente já notou que há um problema num determinado serviço do Hospital de Viana.

Como sempre fiz ao longo de vários anos de blogs, (são 2 apenas… blogs. Porque anos de blog já são muitos mais) não vou mencionar nomes de pessoas e Serviços ou Unidades. Apenas refletir e opinar.

É importante começar por sublinhar que um processo de denúncia é sempre extremamente complexo, delicado e pesado para todos os envolvidos, especialmente para os denunciantes.

Por isso, o meu respeito e consideração por todos os profissionais que tiveram a coragem de assinar esse abaixo-assinado ou Manifesto em oposição aos problemas que são do conhecimento público e que lamentavelmente estão disseminados um pouco por todo o país, por todo o mundo: assédio moral e violência psicológica, por quem está acima na hierarquia laboral.

Este flagelo não é único na instituição implicada. Muitos certamente têm conhecimento de problemas semelhantes numa outra Unidade, mas significativamente mais pequena. Aí só não “rebenta a bomba” porque a equipa de enfermagem é muito curta e desunida. Dessa forma, o senhor diretor de serviço reina a seu belo prazer, como se de uma clínica privada se tratasse, mas nem nessas se pode aceitar uma liderança autocrática, com coação permanente.

Conheço de muito perto ambos os problemas. A fonte sempre foi segura e totalmente fiável. Muitos profissionais desta instituição sabem, mas sempre se foi consentindo, porque os visados são muito poderosos.

Voltando ao primeiro e central problema. Mantenho contacto com vários colegas que pertencem a essa equipa que redigiu a denúncia. Pertenci a esse departamento, felizmente já não. Tive eu próprio o meu conflito com o visado e curiosamente devido ao Blog. Por isso estou em posição de ter uma opinião.

Este caso relembrou-me esse episódio conflituoso. E como além de conflituoso, é curioso, partilho convosco. Foi provavelmente o episódio que mais me marcou em 15 anos de blogs.

Corria o ano de 2015. À data, o senhor de que se fala, já era máximo responsável por todo o departamento em questão.

Decidiu então, o senhor de que se fala (relembre-se, médico), que os enfermeiros da Unidade X teriam de descer para ajudar no Serviço Z, trabalhando à tarefa. O Serviço Z tinha passado uma fase recente de aumento de rácio, que há muito se desejava, porém, mesmo assim, o senhor de que se fala, decidiu, contra vontade de praticamente toda, ou toda até, equipa de enfermagem da Unidade X, que os elementos da mesma sairiam por “empréstimo” para o Serviço Z, para trabalhar à tarefa. Depois de muitos conflitos, discussões e confusões, foi o que aconteceu.

Na altura escrevi sobre isso de forma ponderada. Expus o meu ponto de vista com algum cuidado, porque sabia que aquele meu post poderia “chegar-lhe aos ouvidos”. Lancei questões para a reflexão e discussão geral. Escrevi sobre os aspetos positivos e negativos daquele contexto, naquele momento. Não queria problemas, até porque, apesar de não pertencer a nenhum dos dois serviços envolvidos, pertencia ao mesmo departamento. Não podia comprar uma guerra com alguém do topo da pirâmide e que eu (e muitos outros), já consideravam extremamente perigoso.

O Blog atravessava uma fase de enorme afluência. Tinha centenas de visitas e participantes diários. Era um autor anónimo e procurava a muito custo manter o meu anonimato, mas nessa fase comecei a ser “descoberto”. A curiosidade e a vontade de destaparem o meu anonimato era tanta, que envolveu engenheiros informáticos para me identificarem.

O senhor de que se fala sabia-o. E soube-o por colegas meus, que na altura considerei traidores. Chama-me a um gabinete, traz o diretor do Serviço Z da altura e o enfermeiro-chefe. Fecha a porta e alterado, “encosta-me à parede”. (Não me tocou! É em sentido figurativo!) Praticamente só ele falou. Disparou, ameaçou como quis. Eu respondi que aquilo era apenas a minha opinião, mas que se incomodava assim tanto, que apagaria esse post. Manteve o tom e aí dei possivelmente a melhor resposta da minha vida, perante uma grande adversidade ou intimidação – respondi-lhe que “o 25 de Abril já tinha acontecido em Portugal.” Sendo ele natural de país estrangeiro, poderia ter sido demasiadamente provocador. Mas aí o tom desceu, terá percebido talvez que eu não me iria deixar intimidar. E por muito dura que fosse a ameaça, terá percebido, naquele instante, que eu estava disposto a defender-me até ao último reduto. Mesmo assim acabei por retirar o post, seria uma luta desigual e teria que pensar em algo mais do que apenas em mim e na minha convicção e liberdade de expressão.  

Ainda hoje guardo o post em “rascunhos” e este momento fez-me revisitá-lo e confirmar que de facto era inofensivo. Era uma opinião (igual à de muitos que permaneciam em silêncio) e que afinal fazia algum sentido, porque tempos mais tarde, aquela imposição terminou. Os enfermeiros da Unidade X, deixaram de ter de descer para o Serviço Z.

Voltando novamente ao problema central.

É importante salientar que todo o departamento em questão evoluiu sob a coordenação do senhor de que se fala. A Unidade X e o Serviço Z melhoraram a sua capacidade e estou convicto que todos os que fazem esta grave denúncia, reconhecem que o senhor de que se fala, teve uma forte influência nesse facto.

Mas… para que um líder seja bom, a capacidade de gestão e organização de serviços e equipas não se pode dissociar de uma única premissa – o respeito entre pares. Uma não pode crescer em sentido oposto à outra.

Um líder só é bom, quando consegue conciliar estes dois aspetos.

O inquérito apurará a verdade dos factos e as decisões estarão a cargo da administração.

Só espero que depois disto, não saiam prejudicados todos aqueles (e foi em número extenso) que tiveram a coragem de assinar essa denúncia.

E espero também que nenhum líder autocrático resista a equipas unidas e sólidas

Sem comentários:

Enviar um comentário