Como sempre fiz ao longo de vários anos de blogs, (são 2
apenas… blogs. Porque anos de blog já são muitos mais) não vou mencionar nomes
de pessoas e Serviços ou Unidades. Apenas refletir e opinar.
É importante começar por sublinhar que um processo de
denúncia é sempre extremamente complexo, delicado e pesado para todos os
envolvidos, especialmente para os denunciantes.
Por isso, o meu respeito e consideração por todos os
profissionais que tiveram a coragem de assinar esse abaixo-assinado ou
Manifesto em oposição aos problemas que são do conhecimento público e que
lamentavelmente estão disseminados um pouco por todo o país, por todo o mundo: assédio
moral e violência psicológica, por quem está acima na hierarquia laboral.
Este flagelo não é único na instituição implicada. Muitos
certamente têm conhecimento de problemas semelhantes numa outra Unidade, mas
significativamente mais pequena. Aí só não “rebenta a bomba” porque a equipa de
enfermagem é muito curta e desunida. Dessa forma, o senhor diretor de serviço
reina a seu belo prazer, como se de uma clínica privada se tratasse, mas nem
nessas se pode aceitar uma liderança autocrática, com coação permanente.
Conheço de muito perto ambos os problemas. A fonte
sempre foi segura e totalmente fiável. Muitos profissionais desta instituição sabem,
mas sempre se foi consentindo, porque os visados são muito poderosos.
Voltando ao primeiro e central problema. Mantenho contacto
com vários colegas que pertencem a essa equipa que redigiu a denúncia. Pertenci
a esse departamento, felizmente já não. Tive eu próprio o meu conflito com o
visado e curiosamente devido ao Blog. Por isso estou em posição de ter uma
opinião.
Este caso relembrou-me esse episódio conflituoso. E como
além de conflituoso, é curioso, partilho convosco. Foi provavelmente o episódio
que mais me marcou em 15 anos de blogs.
Corria o ano de 2015. À data, o senhor de que se fala, já
era máximo responsável por todo o departamento em questão.
Decidiu então, o senhor de que se fala (relembre-se,
médico), que os enfermeiros da Unidade X teriam de descer para ajudar no
Serviço Z, trabalhando à tarefa. O Serviço Z tinha passado uma fase recente de
aumento de rácio, que há muito se desejava, porém, mesmo assim, o senhor de que
se fala, decidiu, contra vontade de praticamente toda, ou toda até, equipa de
enfermagem da Unidade X, que os elementos da mesma sairiam por “empréstimo”
para o Serviço Z, para trabalhar à tarefa. Depois de muitos conflitos,
discussões e confusões, foi o que aconteceu.
Na altura escrevi sobre isso de forma ponderada. Expus o meu
ponto de vista com algum cuidado, porque sabia que aquele meu post
poderia “chegar-lhe aos ouvidos”. Lancei questões para a reflexão e discussão
geral. Escrevi sobre os aspetos positivos e negativos daquele contexto, naquele
momento. Não queria problemas, até porque, apesar de não pertencer a nenhum dos
dois serviços envolvidos, pertencia ao mesmo departamento. Não podia comprar
uma guerra com alguém do topo da pirâmide e que eu (e muitos outros), já consideravam
extremamente perigoso.
O Blog atravessava uma fase de enorme afluência. Tinha
centenas de visitas e participantes diários. Era um autor anónimo e procurava a
muito custo manter o meu anonimato, mas nessa fase comecei a ser “descoberto”.
A curiosidade e a vontade de destaparem o meu anonimato era tanta, que envolveu
engenheiros informáticos para me identificarem.
O senhor de que se fala sabia-o. E soube-o por colegas meus,
que na altura considerei traidores. Chama-me a um gabinete, traz o diretor do
Serviço Z da altura e o enfermeiro-chefe. Fecha a porta e alterado, “encosta-me
à parede”. (Não me tocou! É em sentido figurativo!) Praticamente só ele
falou. Disparou, ameaçou como quis. Eu respondi que aquilo era apenas a minha
opinião, mas que se incomodava assim tanto, que apagaria esse post. Manteve o
tom e aí dei possivelmente a melhor resposta da minha vida, perante uma grande
adversidade ou intimidação – respondi-lhe que “o 25 de Abril já tinha
acontecido em Portugal.” Sendo ele natural de país estrangeiro, poderia ter
sido demasiadamente provocador. Mas aí o tom desceu, terá percebido talvez que
eu não me iria deixar intimidar. E por muito dura que fosse a ameaça, terá
percebido, naquele instante, que eu estava disposto a defender-me até ao último
reduto. Mesmo assim acabei por retirar o post, seria uma luta desigual e
teria que pensar em algo mais do que apenas em mim e na minha convicção e
liberdade de expressão.
Ainda hoje guardo o post em “rascunhos” e este momento fez-me
revisitá-lo e confirmar que de facto era inofensivo. Era uma opinião (igual à de muitos que permaneciam em silêncio) e que afinal fazia algum sentido, porque
tempos mais tarde, aquela imposição terminou. Os enfermeiros da Unidade X, deixaram
de ter de descer para o Serviço Z.
Voltando novamente ao problema central.
É importante salientar que todo o departamento em questão evoluiu
sob a coordenação do senhor de que se fala. A Unidade X e o Serviço Z melhoraram
a sua capacidade e estou convicto que todos os que fazem esta grave denúncia,
reconhecem que o senhor de que se fala, teve uma forte influência nesse facto.
Mas… para que um líder seja bom, a capacidade de gestão e
organização de serviços e equipas não se pode dissociar de uma única premissa –
o respeito entre pares. Uma não pode crescer em sentido oposto à outra.
Um líder só é bom, quando consegue conciliar estes dois aspetos.
O inquérito apurará a verdade dos factos e as decisões estarão a cargo da administração.
Só espero que depois disto, não saiam prejudicados todos
aqueles (e foi em número extenso) que tiveram a coragem de assinar essa
denúncia.
E espero também que nenhum líder autocrático resista a equipas unidas e sólidas
Sem comentários:
Enviar um comentário