31 março, 2023
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25 março, 2023
Os problemas de assédio moral no Hospital de Viana
Como sempre fiz ao longo de vários anos de blogs, (são 2
apenas… blogs. Porque anos de blog já são muitos mais) não vou mencionar nomes
de pessoas e Serviços ou Unidades. Apenas refletir e opinar.
É importante começar por sublinhar que um processo de
denúncia é sempre extremamente complexo, delicado e pesado para todos os
envolvidos, especialmente para os denunciantes.
Por isso, o meu respeito e consideração por todos os
profissionais que tiveram a coragem de assinar esse abaixo-assinado ou
Manifesto em oposição aos problemas que são do conhecimento público e que
lamentavelmente estão disseminados um pouco por todo o país, por todo o mundo: assédio
moral e violência psicológica, por quem está acima na hierarquia laboral.
Este flagelo não é único na instituição implicada. Muitos
certamente têm conhecimento de problemas semelhantes numa outra Unidade, mas
significativamente mais pequena. Aí só não “rebenta a bomba” porque a equipa de
enfermagem é muito curta e desunida. Dessa forma, o senhor diretor de serviço
reina a seu belo prazer, como se de uma clínica privada se tratasse, mas nem
nessas se pode aceitar uma liderança autocrática, com coação permanente.
Conheço de muito perto ambos os problemas. A fonte
sempre foi segura e totalmente fiável. Muitos profissionais desta instituição sabem,
mas sempre se foi consentindo, porque os visados são muito poderosos.
Voltando ao primeiro e central problema. Mantenho contacto
com vários colegas que pertencem a essa equipa que redigiu a denúncia. Pertenci
a esse departamento, felizmente já não. Tive eu próprio o meu conflito com o
visado e curiosamente devido ao Blog. Por isso estou em posição de ter uma
opinião.
Este caso relembrou-me esse episódio conflituoso. E como
além de conflituoso, é curioso, partilho convosco. Foi provavelmente o episódio
que mais me marcou em 15 anos de blogs.
Corria o ano de 2015. À data, o senhor de que se fala, já
era máximo responsável por todo o departamento em questão.
Decidiu então, o senhor de que se fala (relembre-se,
médico), que os enfermeiros da Unidade X teriam de descer para ajudar no
Serviço Z, trabalhando à tarefa. O Serviço Z tinha passado uma fase recente de
aumento de rácio, que há muito se desejava, porém, mesmo assim, o senhor de que
se fala, decidiu, contra vontade de praticamente toda, ou toda até, equipa de
enfermagem da Unidade X, que os elementos da mesma sairiam por “empréstimo”
para o Serviço Z, para trabalhar à tarefa. Depois de muitos conflitos,
discussões e confusões, foi o que aconteceu.
Na altura escrevi sobre isso de forma ponderada. Expus o meu
ponto de vista com algum cuidado, porque sabia que aquele meu post
poderia “chegar-lhe aos ouvidos”. Lancei questões para a reflexão e discussão
geral. Escrevi sobre os aspetos positivos e negativos daquele contexto, naquele
momento. Não queria problemas, até porque, apesar de não pertencer a nenhum dos
dois serviços envolvidos, pertencia ao mesmo departamento. Não podia comprar
uma guerra com alguém do topo da pirâmide e que eu (e muitos outros), já consideravam
extremamente perigoso.
O Blog atravessava uma fase de enorme afluência. Tinha
centenas de visitas e participantes diários. Era um autor anónimo e procurava a
muito custo manter o meu anonimato, mas nessa fase comecei a ser “descoberto”.
A curiosidade e a vontade de destaparem o meu anonimato era tanta, que envolveu
engenheiros informáticos para me identificarem.
O senhor de que se fala sabia-o. E soube-o por colegas meus,
que na altura considerei traidores. Chama-me a um gabinete, traz o diretor do
Serviço Z da altura e o enfermeiro-chefe. Fecha a porta e alterado, “encosta-me
à parede”. (Não me tocou! É em sentido figurativo!) Praticamente só ele
falou. Disparou, ameaçou como quis. Eu respondi que aquilo era apenas a minha
opinião, mas que se incomodava assim tanto, que apagaria esse post. Manteve o
tom e aí dei possivelmente a melhor resposta da minha vida, perante uma grande
adversidade ou intimidação – respondi-lhe que “o 25 de Abril já tinha
acontecido em Portugal.” Sendo ele natural de país estrangeiro, poderia ter
sido demasiadamente provocador. Mas aí o tom desceu, terá percebido talvez que
eu não me iria deixar intimidar. E por muito dura que fosse a ameaça, terá
percebido, naquele instante, que eu estava disposto a defender-me até ao último
reduto. Mesmo assim acabei por retirar o post, seria uma luta desigual e
teria que pensar em algo mais do que apenas em mim e na minha convicção e
liberdade de expressão.
Ainda hoje guardo o post em “rascunhos” e este momento fez-me
revisitá-lo e confirmar que de facto era inofensivo. Era uma opinião (igual à de muitos que permaneciam em silêncio) e que afinal fazia algum sentido, porque
tempos mais tarde, aquela imposição terminou. Os enfermeiros da Unidade X, deixaram
de ter de descer para o Serviço Z.
Voltando novamente ao problema central.
É importante salientar que todo o departamento em questão evoluiu
sob a coordenação do senhor de que se fala. A Unidade X e o Serviço Z melhoraram
a sua capacidade e estou convicto que todos os que fazem esta grave denúncia,
reconhecem que o senhor de que se fala, teve uma forte influência nesse facto.
Mas… para que um líder seja bom, a capacidade de gestão e
organização de serviços e equipas não se pode dissociar de uma única premissa –
o respeito entre pares. Uma não pode crescer em sentido oposto à outra.
Um líder só é bom, quando consegue conciliar estes dois aspetos.
O inquérito apurará a verdade dos factos e as decisões estarão a cargo da administração.
Só espero que depois disto, não saiam prejudicados todos
aqueles (e foi em número extenso) que tiveram a coragem de assinar essa
denúncia.
E espero também que nenhum líder autocrático resista a equipas unidas e sólidas
21 março, 2023
Até sempre avó Mila
A minha avó morreu ontem no conforto do seu lar. Em paz. Morreu
no dia de renascimento da Primavera, um dia de luz e alegria, como tanto
gostava.
Foram 4 dias de um sono profundo, tranquilo, até ontem. O
dia da sua partida. Em paz.
A sua família, todos os que amava, junto a si.
Houveram silêncios, lágrimas e risos ao redor da cama. Pelo amor
e respeito, pela saudade e amizade, pelas histórias e recordações. Desde os
filhos até aos pequenos bisnetos, todos ao seu jeito, se despediram.
Deveria ser sempre assim, em qualquer lar. Mas nem sempre é,
ou atrevo-me a pensar que poucas vezes será, num panorama nacional.
A minha avó durante estes longos e difíceis meses, teve o
apoio de uma equipa de suporte em cuidados paliativos. Esclareceram dúvidas,
quer por telefone, quer presencialmente, conversaram, aconselharam, ajustaram a
medicação para um maior conforto, falaram sobre o que é sempre complexo de
abordar, porque cada um tem a sua perceção e filosofia de vida. (Como
trabalho também neste contexto, por vezes dou por mim a pensar que palavras
escolher com aquela família, para abordar o assunto morte).
Também ouviram e guardaram as suas histórias e conselhos de
mulher sábia e solidária.
A minha avó entrou no sono profundo numa quinta-feira. A
equipa de cuidados paliativos já lá tinha estado antes, numa fase em que ainda
se alimentava, apesar de muito pouco ou quase nada. Pela sua ultra-resistência
e por já ter passado por vários momentos semelhantes, não se antevia, nesse
momento, o fim tão próximo.
As últimas noites tinham sido muito pesadas para a minha avó
e para o meu tio, que com ela morava.
Na sexta-feira eu a minha prima, ambos profissionais de
saúde, fomos comunicando a toda a família que a morte da nossa avó estava para
breve. Pensei que fosse uma questão de horas, mas foram 4 dias.
A minha irmã sai de Tenerife, uma outra prima de Viseu, o primeiro bisneto do Porto. Rapidamente todos estavam por perto.
Era o momento de pensar no plano para minimizar qualquer sofrimento, quer da minha avó, quer de toda a minha família, pois estávamos a entrar no fim-de-semana e sem a equipa de suporte. Eram quase 17h, sexta-feira, hora de encerramento do serviço da Equipa de suporte em cuidados paliativos, até segunda-feira.
Mas tinha de lhes telefonar. Tinha a sorte de ser enfermeiro,
a sorte de pertencer à mesma instituição, a sorte de sermos parceiros em
trabalho, a sorte de ter alguns dos seus contactos pessoais, a sorte de ter
algumas relações de amizade. Mas nem todos podem, nem todos têm.
Aí, tive uma ajuda fundamental e decisiva.
Ela não teria de o fazer, pois estava na sua mais que
merecida pausa, mas fê-lo, por amizade e mesmo que não fosse por amizade, não
tenho dúvidas que o faria e a quem quer que fosse.
E não tenho dúvidas que qualquer um dos elementos desta
equipa o faria, porque neles reconheço um sentido humanitário mais além. Esse é o principal requisito para o objetivo que se pretende atingir nestas equipas.
Durante todo o fim-de-semana, de manhã até à noite,
estivemos em contacto. Por vezes nem era eu que tomava a iniciativa. E só assim conseguimos garantir esse ambiente de
confraternização e paz.
E por isso o meu eterno reconhecimento e agradecimento. A todos e a ela em especial. E o agradecimento da minha família que tanto os elogiaram.
E quis o destino que fosse como escrevi com 10 anos de
idade, nessa composição – “Irei acalmá-la em qualquer problema que ela tiver”,
pois com esta ajuda, coloquei na minha avó o dispositivo que profundiu a
medicação necessária para que tivesse em paz, para que partisse em paz.
Com isto pretendo chegar a um único ponto: Alargar com
urgência, o suporte em cuidados paliativos, a todo o utente do SNS, de forma
permanente.
É certo que os serviços autónomos em cuidados paliativos não
existiam a 10, 15 anos atrás. Nem quero imaginar, no passado, como se morria em
casa ou como não se morria em casa.
Muito evoluímos em cuidados paliativos neste país, nestes anos.
Mas há que evoluir mais.
Deixo o apelo ao Ministro da saúde, ao CEO do SNS e a todas as administrações de ULS deste país para assegurar cuidados paliativos nos sete dias da semana, 24 horas por dia, porque a morte não tem horas de expediente.
09 março, 2023
Eu queria um casaco da Ordem
Eu queria um casaco da Ordem. Faço aqui um apelo a Ana Rita
Cavaco ou a quem pertença à Ordem, para me satisfazer este desejo. Se já
tiverem esgotados, enviem-me por favor um chocolate. Cinquenta mil euros em
casacos, prendas e chocolates, deve dar alguma coisinha para mim!
Não pude, nem queria estar nesta Convenção da OE, mas 37.000
eur só em casacos, suponho que não seja só para quem lá foi. Não me parece que
lá tenham estado 3000 enfermeiros, isto a 12 eur o casaco, ou então eram
casacos da Gucci, que a patroa tanto gosta.
Continuando na melodia de Gabriel o Pensador, cá estou
novamente para informar uns e incomodar outros. Não sou o único a questionar o volume
e o sentido destes gastos, mas como já referi antes, perpetua-se no tempo um
estranho silêncio sobre assuntos delicados, que estão relacionados com a Ordem
dos Enfermeiros.
Sobre finanças, questionei em 2021, no Manifesto peladignidade dos enfermeiros, os cerca de 150 000 eur pagos a não
enfermeiros, para dois estudos sobre abandono e condições de trabalho. No
último post questionei os 400 000 eur gastos em processos judiciais e o
1.200.000 em serviços e assessoria jurídica. Hoje questiono as despesas nessa
conta de somar, aí em cima. (fonte base.gov) Sobre finanças, acho que posso
garantir que fico por aqui, enough is enough.
Sim, ok, sou persistente, obsessivo até, mas parece-me
exagerado.
50.000 em prendinhas, parece-me exagerado. 110.000 em
catering, parece-me exagerado. 50.000 em serviços audiovisuais num congresso,
parece-me exagerado. 130.000 em marketing, parece-me exagerado e
despropositado, com telenovelas ridículas e publicidade vazia à profissão, à
mistura.
Também me parece exagerado que a bastonária da Ordem dos
Enfermeiros, na sua página de Facebook, envie e passo a citar, “para o
caralho”, “quem vem por mal” e publique posts com, e passo a citar: “e se me
foderem muito a cabeça”, ou “vai à merda” e comente para aqueles que a
processaram e passo a citar: “quero mesmo é que se fodam”. Parece-me exagerado.
Voltando atrás, àquela conta, pois já me estava a perder a
consultar todo o lixo traseiro.
Alguém sabe o motivo para 20.000 eur em autocarros? Não?! Eu
explico-vos, ou relembro-vos. Recordam-se da grande manifestação de enfermeiros
em 2019, em Lisboa, organizada por alguns sindicatos? Recordam-se também, que
perante os Estatutos da Ordem dos Enfermeiros, “A Ordem está impedida de
exercer ou de participar em atividades de natureza sindical”? É só somar 1+1.
Para terminar, eu não me oponho nada que a Ordem para
a qual eu e tu descontam perto de 10 eur/mês, gaste dinheiro em prendas,
casacos, chocolates, brindes, autocarros, marketing, catering e etc.
Oponho-me sim, é à forma, volume e motivo.