Na
continuidade da rúbrica “Opiniões” da primeira temporada deste Blog
(porquedeixeideserenfermeiro) e, ao contrário do que prometi, voltando um pouco
à sua característica corrosão, escrevo, para meu registo e memória, aquilo que não gosto de
ver nos enfermeiros. Depois, ficaria o convite, para seres tu a fazê-lo.
É de bom-tom
ressalvar que há algumas, digamos, “coisas” que também não gosto de ver em mim,
enquanto enfermeiro, enquanto indivíduo. Serei, portanto, por vezes, aos meus
olhos e aos olhos de alguns, um cromo também.
Posto isto, aqui
vai o que não gosto de ver no enfermeiro:
Quando por diversas e demasiadas vezes pretende intervir ou decidir em campos que não são da sua competência, nomeadamente medicina. Ao fazê-lo, acaba por descurar funções que deveriam ser suas – as de enfermagem, passando uma imagem aos seus colegas, de desprezo por aquilo que é, ou deveria ser, da sua responsabilidade. Há quem os rotule de “frustrados de medicina”. Que não se confunda esta tendência, com o dever de questionar, sugerir e discutir algum assunto médico, com o médico, caso assim se justifique, pelo especial interesse do cliente.
Quando é um
lambe-botas. Este é um estilo clássico e transversal. Não haverá muitos, mas
ainda os há. Caracteriza-se por ser ambicioso e paciente. Vai bajulando a
chefia, assumindo tarefas cada vez mais relevantes e aos poucos vai ganhando
poder. Tem a memória demasiadamente curta ao ter atitudes que criticava no
passado, esquecendo-se que há pouco tempo estava no outro lado e que
rapidamente passa para lá.
Quando é chefe
e rodeia-se de lambe-botas. Aquele tipo de chefe que têm dois ou mais
assistentes: um braço direito, um braço esquerdo e às vezes um cérebro. As
tarefas vão sendo delegadas e repartidas e a equipa questiona-se: “O que é que
o(a) chefe faz ao certo?”
Quando persistentemente
se lamenta do imenso trabalho, mas que acumula em três sítios.
Quando trata
as auxiliares ao nível de quase-escrava. Na pirâmide, os enfermeiros tratam
muito pior os assistentes operacionais, do que os médicos tratam os
enfermeiros. Aquele que se queixa da arrogância do médico, poderá ser o mesmo
que trata com pouca educação e respeito um assistente operacional.
Quando aceita
que um enfermeiro, que ainda há pouco tempo chegou a um Serviço e porque tem
uma especialidade, já mande.
Quando ainda
há pouco tempo chegou a um Serviço e porque tem uma especialidade, manda e pisa
colegas que já lá estão há dezenas de anos e que o(a) receberam e integraram no
Serviço.
Quando acha
que o título de especialista lhe confere superioridade intelectual e técnica em
relação aos outros e mesmo até em relação aos mais experientes, considerados
peritos por colegas e médicos.
Quando só
olha para o seu umbigo. Quer o melhor para si e se esse “melhor” implicar um
“pior” para o outro ao lado, pouco importa.
Quando é
super amigável pela frente e quando viras costas, corta-te pesado na casaca.
Quando quase
te ofende quando vens substituí-lo num posto, por teres demorado uma hora a
almoçar, mas que demora frequentemente uma hora e meia a fazê-lo.
Quando se
queixa de tudo que está associado à enfermagem (SNS, Ministérios, Sindicatos,
Ordem) mas que na altura de tomar a iniciativa para o que quer que seja, fica
calado e imóvel.
Quando se
acha eticamente um grande profissional e ao mesmo tempo, nas redes sociais, destila
ódio e ofensa a colegas seus e outros cidadãos.
E vocês? O que não gostam de ver no enfermeiro?