Sim, sou eu novamente a escrever sobre a Bastonária da Ordem
dos Enfermeiros.
Sim, os meus amigos e familiares, preocupados com a minha persistência,
por um lado e bem-estar, pelo outro, já me deram o toque para desligar e não
valorizar, segundo suas palavras, quem não merece, mas é mais forte do que eu,
perdoem, a incoerência provoca-me inquietação.
Sim, volto a escrever sobre a senhora, mesmo depois de esta
ter dito numa entrevista a uma revista “científica” de nome “Tal & Qual”
que gosta de “provocar” e “chatear os invejosos que andam aí contra
mim. É gente que sonha comigo, a pensar como me pode fazer mal. Com essas fotos
ficam cheios de inveja e, quando as veem e acordam, até dão com a testa na mesa
de cabeceira!”.
(nota: obviamente não leio a Tal & Qual, mas
fazem questão de me enviar estes brindes. Só encontro uma justificação, tal e
qual a Senhora Bastonária, gostam de provocar.)
Por isso sim, volto lamentavelmente a ceder a um dos seus
gostos e como de facto, é público que sou, estou, fui, estive, serei e estarei
“contra” si, terei que responder a esta e outras provocações que adiante
mencionarei:
1. Não sonho consigo, mas de facto devo dizer-lhe
que me inquieta, que me incomoda mesmo digámos, caso contrário não despenderia parte
do meu tempo a escrever sobre si. Não dou o tempo como perdido, vejo-o como uma
catarse, uma forma de descomprimir ao teclado, perante o que tenho assistido em
várias das suas ações.
2. Portanto, sim, “chatea-me”, mas não tenho inveja
de si! De todo! Talvez tenha alguma inveja de um amigo meu que comprou um barco
outro dia.
3. Fazer-lhe mal? Isso nunca. Nasci para praticar o
bem e tenho uma obsessão pela verdade, justiça e respeito. Já todos perceberam
que é inquebrável, aparentemente intocável e que se alimenta com a crítica. Não
lhe desejo o mal, simplesmente não a desejo como bastonária da minha Ordem e
por isso a critico.
4. Na testa já tenho uma grande cicatriz de um
acidente de viação, dispenso outro peteiro.
Antes do tema principal, devo o seguinte esclarecimento a
quem acompanhou a iniciativa de tomada de posição, através do Manifesto pela Dignidade dos Enfermeiros e principalmente a quem se preocupou comigo,
devido à novidade ou rumor de que tinha levado com um processo movido pela
Senhora Bastonária.
Não, a Senhora Enfermeira Bastonária da Ordem dos
Enfermeiros, que eu saiba e até ao momento não moveu nenhum processo contra
mim, decorrente da minha participação no Manifesto pela Dignidade dos
Enfermeiros.
Certamente saberá, mesmo às vezes não parecendo, que vivemos
num país livre, onde, sem insulto e com respeito, poderemos criticar
alguém, preferencialmente baseados em factos.
As minhas fontes já me asseguraram que isso não passou de um
rumor, todavia, sendo para si frequente o meio judicial, tive que preparar a
minha defesa, informando o meu advogado e pensar num eventual contra-ataque,
contactando os meus “connects” jornalísticos. Fiquei mais tranquilo. Se por um
lado desejaria que fôssemos por esse caminho, por outro iria trazer algum
dissabor ao orçamento familiar, isto porque não tenho disponível o dinheiro da
quotização da Ordem para custas judiciais e honorários.
Foi uma experiência única. Ter sido o rosto dessa iniciativa
deixou-me orgulhoso e as palavras de incentivo e valorização que fui recebendo,
fez-me pensar que estou no lado certo, que estou no caminho certo da minha
vida. Se tudo tiver sido em vão, fica o acto na memória. Um dia as minhas
filhas, quando perceberem melhor no que se define a vida, irão ver que o pai,
certo dia, teve coragem de enfrentar algo muito mais poderoso do que ele, na
defesa de valores como respeito, verdade e dignidade.
Ao contrário do que muitos julgam, não sofri nenhuma coação
para desligar do Manifesto. O Manifesto teve algum impacto, não aquele que eu
esperaria. Ultrapassaram-se as 250 assinaturas na Petição que subscreve o
Manifesto e isso é, ao contrário do que os bajuladores acham, extremamente
relevante para quem não tem, nem de perto, nem de longe o mediatismo e o
alcance que a visada tem. Simplesmente decidi que seria a hora de desviar o meu
foco, talvez por sentir ou ter a convicção que a maioria dos enfermeiros está-se
a borrifar, para não dizer outra coisa, em quem é que ocupa o cargo de
bastonário. Uma boa parte aplaude e idolatra a senhora, porque são absorvidos e
iludidos pelas medidas populistas, negligenciando os erros. Outra boa parte
despreza-a, mas esconde-se com receio de represálias. Apesar de tudo, para quem tiver interesse ou curiosidade, a Petição e o Manifesto continuam activos. Podem visitar: Manifesto: aqui e aqui. E Petição: aqui.
E finalmente, o tema principal.
Como podem verificar na imagem, a senhora bastonária calçou as
sapatilhas (ténis, no norte e no resto do mundo, é um desporto) e foi fazer o
que sabe melhor, prestar cuidados. Saiu de casa e voluntariamente ou “pro
bonamente” foi colaborar na diminuição do “overbooking” do Centro de
Vacinação Covid da Graça, vacinando. Até aqui tudo bem ou tudo mal, consoante
as opiniões, ficou feliz, no fundo é o que interessa.
Não concordo de todo com a iniciativa e é altamente
questionável, mas como já estou habituado ao populismo, dou de barato. Poderíamos
esperar que o fizesse de forma humilde e discreta, sem fotos, sem posts, sem
vanglória e vaidade, esperando quiçá, que algum(a) dos admiradores relatasse o
benemérito feito, mas não, não é o seu estilo.
Para quem não é da área da saúde, é importante perceber
porque é que é altamente questionável: Houve alguma autorização dos ACES
ou ARS para esta iniciativa? Pouco provável, tendo em conta que foi só o tempo
de calçar os “ténis” e sair de casa.
Havia algum seguro que protegesse a senhora bastonária? E no
caso de alguma intercorrência grave ou menos grave decorrente de uma inoculação
efetuada pela senhora bastonária, como iria o ACES justificar que aquela dose
tinha sido administrada por alguém externo à equipa?
Mas o cerne da questão nem é esse. O que verdadeiramente me
levou a desabafar, é a brutal incoerência por parte do mais alto cargo da Ordem
dos Enfermeiros. Meses antes, como se verifica na imagem, a mesma senhora
bastonária ameaçou uma professora de enfermagem, que é enfermeira tal como ela,
que teria “mão extremamente pesada” no caso de esta avançar com uma recruta de
enfermeiros voluntários para vacinação covid. Basta compararem as duas imagens
e tirarem as ilações.
Rapidamente vieram as justificações que uma coisa era
voluntariado e outra seria pro bono. Cómico, não? Para mim é.
Mas porque não serão ambas as situações voluntariado? Ou
porque não serão ambas as situações pro bono?
É que Pro bono veste Prada e voluntariado Zara.
Pro bono é chique e voluntariado é pra gente pobre. Será
isso?
Mas afinal, como se isso interessasse, qual a diferença
entre os dois conceitos?
Pro bono é um trabalho voluntário que requer habilitação
profissional e voluntariado não requer habilitação profissional. Pro bono é uma
modalidade de voluntariado.
Mas então essa senhora Leila Qualquer, não é enfermeira? Sim,
é. E não ia recrutar enfermeiros? Sim, ia.
São erradas ambas as situações? Sim, são.
Portanto o meu poligrafo diz, incoerência total.
Até breve!